terça-feira, 23 de março de 2010

O meu avô

O avô Fernando não era um daqueles avôs velhinhos, muito carinhosos, cheios de paciência. Não, o avô Fernando às vezes até era abrutalhado, raras vezes o víamos ter uma expressão mais física de amor ou carinho. Preferia dar a entender o quanto gostava de nós de outras formas, como quando tirei a carta e a primeira vez que andou comigo de carro olhava para a rua toda para ver quem é que estava a olhar, como quem diz "é a minha neta que vai a conduzir. E safa-se bem!". Ou como quando entrei na faculdade e andou semanas a dizer "vai ser doutora, sua vaidosa!".
Em todo o caso, não havia nada que eu dissesse que queria ou precisava sem que ele fosse logo que possível tratar de providenciar. Esta coisa de ser neta única deu-me o privilégio de saborear o meu avô só para mim, como se fosse uma propriedade que não quisesse partilhar com ninguém.
Hoje era dia de comermos rissóis e um galo assado no forno, que andou que tempos a ser criado à espera da data. Também havia arroz doce e bolo. De chocolate, que ele não apreciava chantilly ou doce de ovos.
Parabéns, avô, hoje fazes 78 anos. Mesmo 11 anos depois de ter deixado de te ter perto, hoje continuas a fazer anos.

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